Quem aqui também está de saco cheio de ouvir sobre o tal “apocalipse do varejo”? E sobre a tão temida crise no mercado brasileiro?
Parece haver um pânico generalizado no setor de varejo por conta do número de lojas que foram fechadas em 2017 e das taxas de desemprego aqui em terras brasileiras. No entanto, em momentos de desamparo nós precisamos olhar sempre para aquele pequenino raio de esperança.
Vamos começar a acreditar? Veja só alguns dados que pouca gente conhece:
- Alguns empreendedores e especialistas do mercado de finanças já mostraram que esse tal apocalipse nada mais é do que uma prova de que as lojas – e os varejistas – precisam se adequar aos tempos: é impensável, por exemplo, uma gigante do varejo não possuir um e-commerce ou uma loja virtual;
- O Walmart registrou, em 2017, o maior crescimento de vendas da década;
- O mesmo aconteceu com o varejo brasileiro, que viveu um crescimento significativo mesmo durante os piores momentos da crise.
No entanto, é bom lembrar que se o cliente está mudando, o varejo precisa acompanhar esse ritmo e mergulhar de cabeça nessas novas demandas. Nesse momento tão crucial, os empreendedores do varejo precisam manter os olhos abertos e tentar identificar quais são as tendências que podem ser utilizadas com sucesso em suas lojas.
Chaya Cooper, fundadora de uma empresa de consultoria para lojas virtuais, diz que “a primeira coisa a fazer é parar de acreditar nessas sentenças de morte para o varejo. O que está acontecendo é simplesmente uma mudança de paradigmas: os varejistas não podem mais depender exclusivamente de lojas físicas”. A empresária também afirma que “o varejo precisa começar a tratar os seus clientes como indivíduos de valor, e não como números”.
Vale lembrar, ainda, que o e-commerce também apresentou um crescimento significativo ao longo de 2017: mesmo em tempos de crise, o e-commerce cresceu 12% em 2017 e tem previsão de um crescimento de 15% em 2018.
Para Doug, a situação atual nada mais é do que um novo desafio: dez anos atrás, o desafio era convencer os clientes a comprarem pela internet. Agora, o desafio é entregar os produtos com a maior rapidez possível.
Está preparado para as previsões? O objetivo deste post é mostrar quais são as principais tendências do setor – e o que você pode fazer para não perder a sua chance.
Veja abaixo os especialistas com quem conversamos:
- Doug Stephens, palestrante, especialista no varejo físico e fundador do Retail Prophet;
- Jed Wexler, CEO da 818 Agency, uma premiada agência de conteúdos baseada em Nova York;
- Georganne Bender, consultora, palestrante e especialista do setor de varejo;
- Nicole Leinbach Reyhle, fundadora e criadora de conteúdo da revista Retail Minded;
- Chaya Cooper, empresária, consultora e fundadora do Click2Fit, um software de inteligência artificial voltado para o setor de moda;
- Susan Reda, editora de revistas especializadas como a STORES Media.
7 tendências para o varejo físico no ano de 2018
1. Comunidade
A palavra-chave para o varejo em 2018 é esta: comunidade. Doug Stephens explica o motivo:
“2018 precisa ser o ano da ‘comunidade’. Os empreendedores do varejo precisam perceber que a questão, hoje, deixou de ser a escassez de produtos – e agora está voltada para a escassez de interações verdadeiramente humanas. E um bom varejo precisa estar preparado para preencher esse vazio: já parou para pensar que os seus clientes são pessoas com interesses e valores bem parecidos? Então por que não criar uma comunidade na qual eles possam interagir?”
A comunidade de clientes criada pela Starbucks Brasil é um ótimo exemplo disso: os amantes de café podem se encontrar por meio das redes sociais ou nas próprias cafeterias da rede. O segredo para fazer isso funcionar está diretamente relacionado ao conselho de Doug: crie uma comunidade real – uma comunidade na qual as pessoas possam conversar umas com as outras.
Para Jed Wexler, a importância da comunidade vai além de uma relação entre pessoas reais com interesses compartilhados: “A ideia é pensar localmente – e criar uma comunidade a partir disso. O foco precisa ser a criação e a venda de produtos que reflitam essas comunidades, e para isso precisamos de fabricantes e produtores que também sejam locais (é aquele bom e velho ‘feito com amor, aqui em Minas Gerais!’). São esses laços que garantirão não só a sobrevivência das lojas físicas locais, como o sucesso das mesmas”.
Wexler também traz alguns dados interessantes para sustentar essa teoria:
“De acordo com o Google, quase 78% das pesquisas realizadas em dispositivos móveis acabam resultando em uma venda – em loja física – dentro de 24 horas. Isso acontece porque os nossos clientes querem não só uma experiência ‘no mundo real’, mas também uma comunidade na qual possam se encontrar e trocar experiências. A partir de agora, precisamos fazer valer toda e qualquer visita de um cliente; e precisamos construir uma comunidade na qual eles se sintam à vontade”.
LEITURAS RECOMENDADAS: Se você quiser saber mais sobre a criação de comunidades, dê uma olhada nos nossos outros artigos sobre o assunto.
2. Personalização
Um dos grandes sucessos de 2017 foi a criação de varejos especializados em produtos personalizados e exclusivos, que trabalham quase que exclusivamente com o modelo de assinaturas. A TAG Livros, por exemplo, envia mensalmente um kit literário para a casa de seus assinantes; o Clube do Malte possui algumas opções de assinatura com cervejas e copos especiais; e o Men’s Market, por sua vez, conta com opções de assinatura voltadas exclusivamente para homens que buscam produtos de beleza e cuidados com as barbas.
Georganne Bender explica essa tendência: “O segredo é criar um conteúdo realmente personalizado, que leve em conta as demandas dos clientes”.
Vejamos abaixo o que Susan Reda tem a dizer sobre o tema:
“Nós, do varejo, precisamos adotar essa tendência o mais rápido possível. Em um mundo no qual gigantes como a Netflix e o Spotify criam recomendações e conteúdos cada vez mais personalizados e exclusivos, lojas físicas e empresas de outros nichos precisam começar a personalizar os seus produtos – pois é isso que os clientes estão buscando em suas marcas favoritas”.
Reda aponta ainda um novo processo de manufatura de produtos que pode alterar radicalmente as bases do varejo: a impressão 3D.
Na verdade, essas mudanças já estão acontecendo. A Carbon, conhecida empresa de tecnologia que trabalha com a impressão 3D, acabou de firmar um contrato com a Adidas para criar uma sola de tênis revolucionária. Este é só o primeiro processo de produção em massa desse tipo, mas não há dúvidas de que a tendência é a criação de produtos cada vez mais exclusivos – e que atendam a demandas totalmente únicas dos clientes.
Essa história toda de personalização pode parecer assustadora – mas você não precisa ir tão longe quanto a Adidas e adotar a impressão 3D. Você pode, por exemplo, oferecer serviços de personalização de produtos na sua loja física para os clientes que desejam gravar seus nomes ou iniciais nos produtos.
LEITURAS RECOMENDADAS: Veja como transformar a experiência de compra em algo inesquecível.
3. Dados e informações
Vale lembrar que a personalização de produtos, tal como descrita acima, só é possível quando se tem os dados e informações certas; afinal, para criar um conteúdo exclusivo é necessário conhecer a fundo as necessidades e os desejos do seu cliente.
“Os dados e informações são aliados valiosíssimos para varejistas que precisam tomar importantes decisões comerciais.” —Nicole Leinbach Reyhle, fundadora da revista RetailMinded.com
4. Tecnologia analógica
Por mais que a tecnologia que nos acompanha esteja cada vez mais moderna, é importante não se esquecer da “vida real”.
Para Wexler, o componente “vida real” também tem um outro nome: tecnologia analógica. Segundo ele, isso nada mais é do que:
“uma palavra da moda que está ganhando força no nosso setor de varejo. A tecnologia analógica se refere a experiências que ocorrem na vida real – e que devem existir como complementares às experiências ocorridas na realidade virtual. Isso é especialmente importante para os produtos, as estratégias de marketing e as plataformas do varejo. Em outras palavras: é um conceito que precisa ser adotado por empresas e lojas que estão tentando unir o real com o digital. Para que isso funcione, os dois lados dessa realidade precisam se complementar – e unir clientes com interesses compartilhados”.
Não há dúvidas de que a era digital alterou radicalmente o modo como as pessoas pesquisam preços e produtos; no entanto, como Georganne Bender bem lembra, “a experiência física ainda é responsável pela grande maioria das vendas”.
Dominar a tecnologia analógica e a tecnologia virtual, portanto, significa dominar conceitos totalmente opostos – e ainda assim complementares. Segundo Bender, “o varejo físico precisa aprender a construir – e fidelizar – o seu público com campanhas virtuais e experiências no mundo real. Hoje em dia, nem aquela lojinha da esquina pode se dar ao luxo de não ter uma forte presença digital”.
5. Vendas diretas
Stephens acredita que outra tendência para o próximo ano é o aumento de vendas diretas – ou seja, vendas realizadas diretamente entre a marca e o cliente final:
“A partir de agora, é possível que vejamos um número cada vez maior de marcas encerrando parcerias com grandes lojas para que possam vender seus produtos diretamente para os clientes finais. A justificativa para essa mudança é simples: muitas dessas lojas acabam tendo um efeito tóxico sobre a identidade da marca – e, para sobreviver, é necessário oferecer uma experiência de compra única e inesquecível. Além disso, muitas empresas estão percebendo que não precisam mais de intermediários para anunciarem seus produtos: com e-commerces e lojas físicas personalizadas, elas podem atingir seus clientes de maneira direta e muito mais lucrativa”.
6. Experiências de compra em lojas físicas
Uma das maneiras mais eficientes para criar uma experiência de compra realmente memorável é levar a sua loja virtual para um espaço físico. Como o digital complementa o real, lojas físicas de uma marca ou e-commerce extremamente popular são sucessos certeiros – e uma das tendências mais fortes para este ano. Além disso, vale lembrar que localizações físicas de marcas com uma forte identidade virtual são um prato cheio para os fãs das redes sociais: por meio de hashtags e fotos promocionais, eles poderão se relacionar com a loja de uma maneira totalmente nova.
Uma loja não deve oferecer apenas produtos, mas sim experiências: quanto maior for o número de boas lembranças, maior será o sucesso. O foco, hoje, não está mais no número de vendas – mas na hospitalidade da sua marca, na comunidade de clientes e nos eventos voltados para eles. — Doug Stephens.
É claro que essa tendência pode parecer um pouco fantástica em um mundo que está sendo lentamente conquistado pelos recursos de realidade aumentada e inteligência artificial; no entanto, quando se trata de uma experiência física de compra, a melhor coisa a fazer é concentrar os seus esforços no mundo real – e tentar construir uma comunidade realmente conectada de clientes.
Chaya Cooper conta que “não há como negar que o conceito de varejo experiencial ganhou força em 2017. Por mais que seja considerado como uma mera distração (que às vezes pode sair mais caro do que o esperado) por alguns empreendedores, o varejo experiencial pode aumentar significativamente o número de vendas e de clientes fidelizados de uma loja física. A principal estratégia do varejo experiencial é atrelar a experiência do cliente ao produto, e o seu foco é a expansão da marca ou a experiência dos clientes”.
Georganne Bender também faz parte do time de especialistas que acreditam na força dessa tendência:
“Nada é mais valioso do que uma loja repleta de produtos incríveis e povoada por uma equipe de vendedores que conhecem a fundo todos os detalhes de cada cantinho da loja – e que sabem lidar com qualquer tipo de cliente. O mesmo pode ser dito de eventos organizados dentro da própria loja, que não só incentivam as compras como também são divertidos e badalados. O grande desafio de uma loja física é criar e cultivar experiências verdadeiramente únicas – e, simultaneamente, despertar a atenção dos clientes”.
7. Colaborações e parcerias
Podemos afirmar com convicção que 2017 foi o ano de parcerias de sucesso – mesmo que algumas tenham sido inesperadas. A união de marcas muitas vezes distintas ou até mesmo provenientes de setores completamente opostos provou ser um sucesso certo nas redes sociais (para não falar do sucesso de vendas).
A Farm, marca que nasceu nas ruas cariocas, foi rápida em perceber o potencial das parcerias: ao longo dos anos, criou produtos que são a cara da loja – mas que também carregam um símbolo de marcas voltadas para o mesmo público que o seu, como a Jansport, as Havaianas e a Adidas.
Desdobramentos e experiências: as previsões para o varejo
A verdade é que está na hora de arregaçar as mangas e começar a suar a camisa, porque o ano de 2018 promete ser um período de muito sucesso para o varejo físico.
Wexler, por exemplo, explica que “atualmente, a maior mudança no setor de comércio é essa constante alternância entre a loja física e a loja virtual. Se administrada corretamente, essa mudança pode ser uma oportunidade imbatível para os varejistas: o segredo para o sucesso, afinal, é proporcionar as experiências que os clientes desejam viver – na vida real”.
Bender simplifica a ideia: “O cliente de hoje dita a hora, a forma e o valor de uma compra. Saber ouvi-lo é mais do que essencial”.
Lembre-se: fidelize seus clientes com produtos e promoções imperdíveis e continue a surpreendê-los com eventos e outras experiências totalmente personalizadas. Dessa forma, você estará preparado para qualquer nova tendência.
Sobre a autora
Carolina Walliter é escritora, tradutora, intérprete de conferências e editora-chefe do blog da Shopify em português do Brasil.
Post original em inglês: Karin Eldor
Tradução e localização: Marcela Lanius
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