Todos conhecem a história clichê de um empreendedor: um fundador inicia um negócio, ele se torna um sucesso da noite para o dia, cresce rapidamente e sua conta bancária também. Essa história de superação faz parecer tudo tão fácil, não é mesmo?
A realidade é que nem toda empreitada é uma história de crescimento tranquilo. Para cada empresário que vive dias ensolarados, há muitos outros que enfrentam céus cinzentos e tempestades.
O empreendedorismo, afinal, não é um caminho fácil. É o menos percorrido, com um terreno mais traiçoeiro. Vem acompanhado de altas taxas de fracasso, instabilidade financeira, incertezas e concorrência acirrada. E apesar do que muitos dizem, é extremamente difícil criar um negócio de sucesso.
Não é surpresa, então, que cerca de 70% dos empreendedores no Brasil são direta ou indiretamente afetados por problemas de saúde mental. Com o número de empreendedores estimado em 90 milhões no país, esse problema afeta uma parcela significativa da população. Embora a insegurança possa ser um desafio para praticamente todas as pessoas, lidar com ela pode ser especialmente difícil para um empreendedor. Por isso, discutir os obstáculos mentais e emocionais do empreendedorismo não deve ser um tabu.
Este artigo aborda cinco dos obstáculos mentais comuns enfrentados por empreendedores e revela o que você pode fazer a respeito enquanto tenta iniciar seu próprio negócio e fazê-lo crescer.
Abrir um novo negócio pode ser assustador
Expor seu trabalho duro no mundo é angustiante, especialmente quando tanto tempo foi dedicado para construir e refinar o negócio. Para muitos empreendedores, realizar uma simples pesquisa de mercado pode ser um grande desafio. Você investiu muitas horas para construir uma marca, encontrar um produto, criar uma embalagem, definir uma estratégia de envio e aperfeiçoar a aparência de uma loja para garantir que tudo esteja perfeito.
Abrir um negócio traz um conjunto totalmente novo de desafios, todos diferentes das etapas de ideação ou escalonamento.
E, claro, a insegurança. E se ninguém notar sua inauguração? E se notarem, o que pensarão? E se algo der errado durante o processo?
Esses são medos válidos e normais. A Shopify já viu muitos novos proprietários de negócios experimentarem a mesma ansiedade antes de clicar para entrar no ar.
Como lidar com a ansiedade pré-lançamento
É normal duvidar de si e se questionar antes do grande momento. Mas muitos fundadores podem atestar a importância de começar como um ponto necessário de impulso para que sua jornada empreendedora decole. Afinal, a única coisa pior do que um lançamento imperfeito é não lançar nada. Tenha calma, ninguém acerta na primeira tentativa. Decifrar o código do crescimento empresarial é algo que você precisa aprender.
A única coisa pior do que um lançamento imperfeito é não lançar nada.
Por isso, tente usar um lançamento imperfeito a seu favor. Ryan Zagata, da Brooklyn Bicycle Company, por exemplo, queria mostrar suas bicicletas aos clientes o mais rápido possível para poder aprender como melhorar os produtos e a infraestrutura de distribuição.
“Queríamos entrar no mercado o mais rápido possível. Por isso, fomos às lojas de bicicletas, colhemos feedbacks e os colocamos em prática. Fizemos muitas melhorias com base no feedback dos clientes. Meu conselho seria: reconheça que, em algum momento, você vai colocar um produto melhor no mercado. Ao se apegar ao seu produto original e achar que alterá-lo é o fim do mundo, você terá uma proposta perdedora”, diz ele.
O empreendedorismo pode ser solitário
Quando Dave Linton teve a ideia para seu negócio de mochilas, a Madlug, ele tinha um orçamento de £500 (cerca de R$3.500) e nenhuma experiência em negócios. Ele vinha de uma pequena cidade na Irlanda do Norte, conhecida por seu amor por ofertas de desconto, e seus amigos achavam que um negócio de mochilas era uma má ideia.
Embora essas circunstâncias iniciais possam ter feito da Madlug uma aposta difícil, a missão de Dave tornou difícil ele desistir: para cada mochila comprada, a Madlug doaria uma a uma criança no sistema de acolhimento do Reino Unido que, de outra forma, teria que carregar seus pertences em sacos plásticos. “Sempre fui apaixonado por defender e representar o azarão. Isso me motivava a me levantar para trabalhar”, diz Dave.
Assim, Dave jogou a longo prazo. Levou um tempo para controlar o fluxo de caixa, mas acabou valendo a pena, já que aquele investimento de £500 se transformou em uma receita de £500.000 depois de 6 anos. Mas ele se lembra de muitos momentos monótonos, tristes e assustadores que tornaram difícil continuar. Em um ponto, ele encontrou seu fluxo de caixa estagnando em algumas centenas de dólares por mês, deixando-o impotente e solitário. Como um empreendedor solo cercado por pessoas que não compartilhavam sua mentalidade empreendedora, ele percebeu que não tinha a quem recorrer. Nenhum parceiro de negócios ou mentor confiável para discutir ideias ou decisões importantes. A luta dos empreendedores era muito real.
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Como combater a solidão
Trabalhar em isolamento pode facilmente se tornar a norma para um empreendedor. A tecnologia permite administrar seu empreendimento sem nunca sair da sua mesa ou até mesmo trocar de roupa. Muitos empreendedores não sabem a quem recorrer para obter apoio (especialmente empreendedores solo como Dave), por isso, seguem em frente sem uma rede profissional para se apoiar ou têm que construir essa rede ao mesmo tempo que o negócio.
Assim como Dave desejava nos primeiros dias da Madlug, é igualmente importante cercar-se de pessoas que apoiem seu negócio e seu estilo de vida. Construir uma comunidade, ou ingressar em comunidades existentes, é fundamental para construir um melhor conjunto de recursos e conexões que serão muito úteis ao escalar um negócio, especialmente em tempos de isolamento.
Para Dave, foi através da sua própria rede profissional que ele finalmente construiu uma equipe de conselheiros de confiança e contratou um mentor de negócios para ajudar na tomada de decisões importsantes da Madlug. “Eu tenho o apoio de um conselho que é quase mais corajoso do que eu”, diz ele.
O empreendedorismo é não linear
Apertem os cintos: a jornada do empreendedorismo traz altos e baixos, e muitos deles. Desde problemas logísticos inesperados até questões de fornecimento, pessoal, financiamento e qualidade, você nunca sabe quais desafios surgirão.
Quando Janna e Shira começaram a Flourist, vendendo grãos e feijões de qualidade premium e frescos, eles não previram tantas batalhas difíceis. Nos primeiros dias, enviaram seus produtos em ônibus da Greyhound, costuraram sacos de embalagem à mão e tiveram que enfrentar um número incontável de obstáculos antes de obter as licenças de funcionamento.
Às vezes, os baixos fazem parecer que o mundo inteiro está conspirando para impedir seu sucesso.
Janna Bishop, Co-Fundadora e CEO da Flourist
“Pode ser algo pequeno, como nosso misturador quebrando uma semana antes do Natal, ou um lote inteiro de pão não dando certo, ou pode ser algo maior, como a cidade revogando nossa licença de ocupação no dia em que abrimos nossa padaria por causa de uma marca de verificação faltando em um formulário”, acrescenta Janna. Elas admitem que os altos e baixos afetam sua saúde mental, geralmente se manifestando em estresse ou noites sem dormir.
Como construir resiliência
Embora o empreendedorismo possa sempre estar repleto de incertezas, as etapas iniciais de iniciar um negócio provavelmente trarão mais baixos do que altos. É importante perseverar apesar dessas dificuldades, pois elas geralmente envolvem a resolução de problemas fundamentais essenciais para colocar seu negócio em funcionamento, como descobrir uma logística complicada, encontrar os fornecedores certos e contratar funcionários. Resolver esses problemas iniciais e difíceis trará benefícios a longo prazo.
Para Janna e Shira, o fornecimento e o envio de produtos são problemas do passado. Mas elas aprenderam a esperar que outros baixos apareçam tanto quanto os altos. Felizmente, quanto maior seu negócio se torna, mais as coisas se estabilizam. Janna lembra de ter lido uma citação recentemente que dizia: “como construímos resistência? Nós suportamos”. “Acho que é isso. Você só precisa de algo, qualquer coisa, para te levar ao próximo passo,” diz ela.
Natalie Gill da Native Poppy também conhece a importância da resiliência. Quando começou seu negócio de flores, ela esgotou as economias, mergulhou em dívidas, enfrentou escassez de pessoal e tentou expansões que não deram certo e que afetaram sua saúde, sono e relacionamentos pessoais.
“Há dias bons e dias ruins, e para chegar onde você quer, você tem que passar por muitas dificuldades. Não é nada glamouroso”, diz Natalie.
Para poder crescer, você precisa estar à vontade com o desconforto, e eu estou o tempo todo. Mas é gratificante de uma maneira que nenhum outro trabalho foi para mim.
Natalie Gill, Fundadora da Native Poppy
📚 Seu negócio empacou? Saiba o que fazer para sair do lugar com resiliência.
O burnout é real
Desde marketing até redes sociais, suporte ao cliente, design de sites, embalagem e cumprimento de pedidos, os empreendedores são muito versáteis. Isso, juntamente com a capacidade de acessar seu negócio 24 horas por dia, muitas vezes resulta em uma agenda lotada e um equilíbrio precário entre trabalho e vida pessoal. Para piorar, os empreendedores geralmente operam sob pressões financeiras ou logísticas extras em comparação com negócios mais estabelecidos.
Quando essa é sua realidade, pode ser fácil cair em hábitos prejudiciais que envolvem negligenciar sua saúde física e mental, não se alimentar bem ou não descansar o suficiente. Dawna Simon, da Pink Peppercorn Apothecary, conta sua história.
Como cuidar de si e do seu negócio
Muitos empreendedores, como Dawna, sabem por experiência própria que, no meio da construção de um negócio, você pode facilmente esquecer de cuidar de si. Se atendemos ou não nossas necessidades básicas, movimento, alimentação, sono e interações com outras pessoas, tudo isso se acumula, afetando eventualmente como lidamos mental, emocional e fisicamente com as demandas de administrar um negócio.
Investir em seu bem-estar é tão importante quanto investir em seu negócio. Experimente uma ferramenta de gerenciamento de tempo para manter sua vida nos trilhos, reduzir o estresse e melhorar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
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Rejeição não é uma opção, é uma certeza
Para Denise Woodard da Partake Foods, ouvir “não” é uma resposta muito comum.
“Gastei centenas de dólares e falhei miseravelmente”, disse Denise Woodard, lembrando seus primeiros dias experimentando receitas em sua cozinha. Motivada por sua filha, que sofria de várias alergias, o objetivo de Denise era fazer lanches saborosos que fossem saudáveis, naturais e livres dos oito principais alimentos alergênicos.
Então veio a súplica para que as instalações livres de alérgenos dessem uma chance à sua pequena operação — algo que eles não estavam dispostos a fazer a menos que estivessem fabricando para um grande negócio estabelecido. Com perseverança, ela eventualmente teve uma receita vencedora, um produto e uma marca.
Ela se lembra de dirigir pelas lojas de produtos naturais em Nova Jersey e Nova York todas as manhãs com uma ficha de vendas, mochila e amostras para convencê-los a levar seu produto. Mesmo assim, os “nãos” que ela experimentou até aquele momento foram poucos em comparação aos que vieram na fase de captação de recursos.
Para muitos empreendedores, a rejeição não é apenas um fenômeno da fase inicial. Eles dependem da parceria e da persuasão de outros em cada etapa para fazer seu negócio ter sucesso. Seja de compradores, clientes por atacado, investidores, fornecedores ou redes sociais, as rejeições (pequenas e grandes) podem acontecer todos os dias, e são difíceis de evitar. Seu impacto pode ser psicologicamente desgastante, muitas vezes diminuindo a motivação, a autoestima e a capacidade de tomar decisões com confiança.
Como usar a rejeição como combustível para motivação
Não há como escapar da rejeição, ela vai acontecer. No entanto, você pode se preparar para ela. Mude sua mentalidade para reconhecer que a rejeição não é o fim da linha, mas sim uma oportunidade de aprendizado.
Pesquisas de Carole Dweck, autora de Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, apoiam a noção de que aqueles com uma mentalidade de crescimento, pessoas que acreditam que as habilidades podem ser desenvolvidas e que os erros podem ser aprendidos, têm mais chances de prosperar em comparação àquelas com uma mentalidade fixa. Aqueles que acreditam que suas habilidades estão fixas e não podem mudar são geralmente menos adaptáveis às mudanças necessárias no empreendedorismo.
Denise sabe da importância disso. Para ela, “não” significa “não agora”. Ela é do tipo que foca intensamente em seu próximo passo e não deixa distrações, como os “nãos”, atrapalharem seu caminho.
O feedback é um presente. Use cada crítica construtiva como um lembrete de que há espaço para crescer, metas a serem alcançadas e oportunidades para melhorar sua abordagem na próxima vez.
💡Saiba mais sobre como você pode lidar melhor com a rejeição com base em seu tipo de personalidade.
Ninguém disse que seria fácil. Mas vale a pena.
O empreendedorismo pode ser o caminho menos percorrido, mas às vezes, quanto mais difícil a jornada, mais valiosa a aventura. Esteja você na fase da ideia ou escalando um negócio, valorize cada pequena conquista ao longo do caminho: elas tornarão sua jornada gratificante.
Basta perguntar a Jaime Garrastazu, que arriscou e deixou um emprego estável para abrir a Pompeii, uma marca de calçados e roupas, com quatro amigos da faculdade.
“Foi a melhor decisão da minha vida”, diz ele. “Não porque a Pompeii foi bem-sucedida, acho que o sucesso é bastante subjetivo, mas porque é impossível pensar que qualquer outra carreira ou profissão poderia me proporcionar esse nível de crescimento pessoal e profissional”.
Lembre-se de fazer previsões, se preparar, cuidar de si, construir sua rede e desenvolver uma mentalidade saudável ao longo do caminho. Cada obstáculo superado é um bom treino para desafios mais complexos no futuro. A vida de um empreendedor pode ser incrivelmente difícil, mas é extremamente recompensadora.
Perguntas frequentes dos desafios do empreendedorismo
Quais são alguns dos desafios comuns do empreendedorismo?
Existem muitos desafios que os empreendedores enfrentam, incluindo:
- Níveis elevados de estresse
- Dificuldade em ajustar o produto ao mercado e encontrar clientes
- Trabalhar demais e acabar se esgotando
- Falta de fluxo de caixa
- Encontrar o modelo de negócio certo
Como você pode superar os desafios para fazer um pequeno negócio crescer?
Fazer um pequeno negócio crescer pode ser incrivelmente desafiador. Uma das melhores maneiras de superar os desafios do empreendedorismo é aprendendo com aqueles que já trilharam esse caminho. Cercar-se de uma ótima equipe e entender os desafios enfrentados pelos empreendedores pode realmente ajudar a avançar.
Como os empreendedores podem lidar com a solidão?
Não tenha medo de pedir ajuda. Cerque-se de boas pessoas, seja seus contratados ou seus mentores. Saber que você não está só é um fator incrivelmente importante para lidar com a solidão.